Processo Criativo do Artista Zé Regino
segunda-feira, 18 de janeiro de 2016
domingo, 22 de novembro de 2015
Observação II - Cena
Transcrição:
C1
Ensaio
aberto na escola Centro de Ensino Médio do Gama.
No
dia 25 de setembro, primeira apresentação de ensaio aberto da peça
"Domingo sem Chuva"
-
Atores se aquecendo no palco.
-
Experimentação do cenário, que conta com projeções de imagens em um painel
branco. As imagens estão na cena inicial e na cena final da peça. Na primeira
cena as imagens nos situam em uma festa de passagem de ano de 1954. Já as
últimas imagens projetadas, nos contam através de colagens cômicas - propositalmente
aparentes -sobre a vida das personagens, suas experiências entre 1954 e agora.
-
A arquitetura do teatro, que era uma espécie de auditório, não colaborou com a
peça porque além do calor enorme, suas inúmeras portas laterais eram o tempo
todo abertas pelos alunos que estavam do lado de fora, deixando entrar a
intensa luz do sol das 13 h.
- José
Regino recebe a platéia esclarecendo que a apresentação se trata de um ensaio
aberto.
-
A platéia é formada por adolescentes do ensino médio e suas professoras. O comportamento
dessa platéia foi respeitoso de uma forma geral.
- Este
local tem uma relação afetiva com o ator João Veloso, pois ele é um ex aluno da
escola. Ao final da peça, durante a conversa com a platéia, ele fala sobre sua
escolha de profissão e aponta a professora de teatro presente na platéia como
uma de suas grandes motivações.
- Coincidiu
na cena onde as personagens fumavam maconha, de uma saída de grande quantidade
de espectadores. Poderia ter gerado a ideia de um desinteresse por parte da platéia por causa da cena. No entanto, foi
constatado que um sinal de saída da escola tocou no mesmo momento.
-
Durante a conversa:
*
A professora de teatro disse ter achado interessante que quase não havia
palavras na peça, sendo um exemplo de dramaturgia no teatro para os seus alunos
presentes.
*
Os atores e o diretor perguntou ao público se eles fossem escolher uma das
cenas para retirar do espetáculo, qual eles tirariam?
- A
maioria escolheu retirar a cena da escada. A maioria dos adolescentes
optou por permanecer a cena do cigarro
de maconha no espetáculo.
Observação I - Ensaio
Transcrição:
Es1
Ensaio
no teatro Conchita de Moraes, no dia 24 de setembro de 2015
-Interessante
perceber que os atores aos poucos começaram a fazer a base sonora com a voz
enquanto montavam o cenário, vestiam seus figurinos e arrumavam seus cabelos.
Essa base foi crescendo, assim como a organização geral dos materiais de cena, até
se constituir em música.
-Não
há uma presença autoritária do diretor. Tudo flui. Os atores se sentem a
vontade com o diretor. O diretor nunca levanta a voz.
-
O diretor os lembra de um exercício do aquecimento de voz.
-Durante
a passada do espetáculo inteiro, o diretor José Regino intervém de várias
formas e chama a atenção dos atores para a relação com os objetos de cena que
todos manejam em algum momento do espetáculo:"Colocar o objeto em cena,
tem que saber como lidar com ele"
Observação III - Ensaio
Transcrição: Es3
Imagens sobre este post estão em Exercícios para
atores e Trabalho de Ator -1
Ensaio no teatro Conchita de Moraes, no dia 01 de outubro
de 2015.
Este ensaio aconteceu logo após o primeiro ensaio aberto,
no dia 25 do mesmo mês. Os problemas detectados pelo diretor ganharam foco e
este encontro foi totalmente dedicado ao treinamento dos atores de forma a
melhorar suas performances no campo das ações cômicas. A palhaçaria, com suas
inúmeras técnicas e procedimentos, é fundamental nesse espetáculo e os exercícios
que seguem visavam o trabalho sobre as reações dos atores, o seu manejo e
relação com os adereços e objetos e a dilatação de seus corpos em cena, dentre
outros.
-Exercício de andar olhando para trás , pára e olha para
a frente.
Zé
Regino durante esses exercícios fala que está "convencido de que a ação
cômica é didática, mesmo! Ela tem que ser clara."
-Exercício com a cadeira :
Falas
de intervenção do diretor durante a execução:
"Não
se esqueça, é um exercício, não idealize, execute. O objeto agora é seu mestre,
não se oponha a ele!"
"Vocês
perceberam como vocês estão o tempo todo armados em relação ao objeto? Que em
nenhum momento estão passivos? E a relação com o objeto não pode ser
essa!"
- O diretor, em seu depoimento ao nosso grupo
de observação durante o ensaio:
"O
nosso teatro é muito proativo, e o que eu busco é a capacidade de reação do
ator. O que eu já percebi isso há muito tempo atrás, com a minha pesquisa de
palhaço, que é um lugar alógico, o palhaço não trabalha com a lógica, é um
universo alógico."
-
Agora a indicação é para que os atores continuem os exercícios propostos usando
a peruca de suas personagens. Essas são algumas de suas falas durante a
execução de tais exercícios:
"Reaja!
Brinque com as coisas que acontece, nada
acontece por acaso."
"Agora peguem mais uma peça do
figurino!"
"Não
se esqueçam dos princípios: impulso, contra impulso, trajetória e
principalmente da respiração consciente
quando você está fazendo isso!"
"Não
se esqueçam que a primeira ação de vocês é sempre ser visto, deixar ser visto!
Entrar em cena e deixar ser visto."
"Não
se esqueçam dos impulsos da trajetória, vocês são as pessoas erradas , no lugar
errado, fazendo a coisa errada!"
"O
corpo cômico, amanhã, na apresentação, eu quero ver todo mundo como se
estivesse ligado na tomada, o corpo dilatado!"
-
Ao final do treinamento e do ensaio, os atores e o diretor se reuniram para
avaliarem suas experiências:
Elisa- atriz: "Era um exercício que
esgota, mesmo, de esgotamento."
Kelly- atriz: " Faz sentido mesmo quando
a gente vai para a cena. Foi importante porque a gente não teve esse tempo de treinamento antes."
Zé Regino chama a atenção dos atores para a
apresentação do dia seguinte: "Amanhã, se permitir reagir para não ficar
acelerando a cena!"
domingo, 8 de novembro de 2015
Conversas e Reflexões IV - Sobre a FOTOsSÍNTESE.
Seria um FOTO que é SÍNTESE da personagem. José Regino em uma conversa com o nosso grupo fala como foi o processo de organização dessa idéia mencionada por ele diversas vezes nos ensaios com seus atores. José Regino conta que já escutou essa de noção de síntese em imagem em situações diferentes durante sua vida: no trabalho de arte educação, no trabalho do
Lume Teatro, em cursos e trocas com outros palhaços. Diz que percebeu também que essa
noção geralmente faz parte de uma narrativa dramática. Nos anos 80, quando ele trabalhava com arte educação escutou de uma professor que quando uma aluno
consegue construir uma foto que sintetize um tema, mesmo em exercício, isso faz com
que ele aprofunde a visão sobre o que está sendo trabalhado. Nesse sentido, eram trabalhados vários exercícios com os alunos: fazer uma cena à partir de uma foto, texto, imagem
ou de um quadro e vise versa.
José Regino observou também esse recurso de
fotografia como síntese em outras linguagens, outras narrativas, filmes. Percebeu que uma imagem age como um recurso para lembrar ao público o ponto de vista daquela
personagem, quem ela é, a origem, a situação da personagem na narrativa. Depois, durante treinamentos de palhaço, tanto com Lume e com o Marcio Libar, sempre escutava: “entre em cena e não faça nada.” Com o tempo e na prática da palhaçaria ele foi entendendo que não existe
“não fazer nada”, pois ele acredita que toda ação é carregada de intenção. Entendeu que “entrar em cena para fazer nada” é no mínimo entrar em cena
para ver e deixar ser visto.
Mais tarde, fazendo estudo sobre atuação cômica, reparou
que alguns atores sempre usavam esse recurso de retomar o estado inicial da personagem durante as cenas. Ele entendia como um recurso proposital para a audiência não esquecer
quem é o personagem, a origem, qual foi a introdução dele no drama. Observou
esse recurso sendo utilizado em cenas televisivas e cinematográfica, como a
antiga TV Pirata e nas narrativas dos filmes do Charles Chaplin. Chamava-lhe a
atenção a forma como Chaplin introduz e
exibe a figura do Carlistos na narrativa. Pensou em usar esse recurso nos seus trabalhos, pois se
o palhaço entrar com a imagem síntese de quem é ele, ele também pode lançar mão da síntese em imagem em
momentos específico e a plateia nunca vai esquecer quem é ele. Em “Quero ser
igual à ele” foi a primeira vez que o Zé
começou a usar esse recurso conscientemente e propositalmente. Na prática do
espetáculo notou que esse recurso funcionava muito bem. A plateia entende e
reconhece de imediato a figura. Atualmente ele reconhece que em qualquer trabalho
que ele faz, sempre usa a técnica da FOTOsSÍNTESE da personagem no estado inicial da narrativa,
como também usa outras imagens que sintetize as transformações que a personagem vive ao
longo da narrativa. Com isso ele percebe
que as expressões e movimentações dos personagens fazem mais sentido e ganham
mais organicidade.
A palavara FOTOsSÍNTESE veio quanto Zé estava estudando
sobre recuperação de plantas, para cuidar de suas plantas domésticas. Ele viu que é importante para as plantas se
recolherem, serem podadas para que seja possível fazer a fotossíntese plenamente
o tempo inteiro. Então, a fotossíntese intendida como um processo biológico de troca entre
a planta e o meio externo serviu como uma metáfora para o momento de exibição da
personagem em uma imagem síntese para a audiência. Uma metáfora para o momento que o ator troca com a audiência e reage de acordo com o jogo que irá estabelecer com a platéia. Foi quando ele deu o nome
FOTOsSÍNTESE.
Nesse pesquisa, José Regino também percebeu a capacidade que a foto tem de sintetizar
processos. Principalmente ao estudar a arte de grandes fotógrafos com Sebastião Salgado.Segundo ele, uma boa foto tem a capacidade de fazer uma síntese visual, estética de um momento e ao mesmo tempo a foto também amplia os significados em conceitos. Assim, para Zé
Regino a FOTOsSÍNTESE busca também ir além do momento “fotografado”, como o
resumo de um percurso no tempo e no espaço.
Observação IV - Ensaio
Observando o último ensaio realizado pelo Grupo Celeiro das
Antas, no dia 28 de outubro percebemos que algumas noções e conceitos
utilizados pelo Diretor José Regino são norteadores no seu trabalho. À partir
dessas observações, estamos identificando quais são os pontos chaves do
trabalho e aprofundando algumas
questões.
É notável que a musicalidade do espetáculo “Domingo sem Chuva”
é muito forte e marcante. Durante esses ensaios de lapidação e manutenção do
espetáculo, o grupo começa o trabalho com um aquecimento vocal e depois "passam" todo o repertório musical do espetáculo. Esse trabalho vocal inicial funciona como um
aquecimento para começar o ensaio. Apesar da fragilidade técnica musical dos
atores a musicalidade é desempenhada muito bem por eles, com as diversas funções
propostas nas cenas.Eles trabalham com a noção de grupo orquestra, usam ruídos,
sons, ambientações, usam linhas melódicas como subtexto, canção em cena, usam
músicas originais, músicas conhecidas, brincam em diálogos com frases
musicais.....Para entender melhor como a musicalidade do espetáculo é executada de forma tão diversa, iremos
aprofundar mais esse assunto e fazer um poste específico sobre as categorias de uso da musicalidade na cena.
Repetidas vezes o diretor parava uma cena para dizer para
os atores “Espera.... primeiro deixar ser vista”, principalmente quando era a
primeira vez que a personagem se apresentava ao público. Nesse momento me
recordei, imediatamente, do conceito de FOTOsSÍNTE que o diretor trabalha. Trata-se
de um momento de apresentação, ou reapresentação da personagem para o público, momento de respirar e de se deixar ser visto. Ele propõe, aos atores, uma atitude menos
pró-ativa e mais reativa. Nesse ponto, também tocamos em outra noção que o José Regino trabalha bastante: a reação como chave para a comicidade. O ator tem que dar
ênfase em reagir, pois é com a reação que ele vai mostrar o que está
acontecendo e estabelecer o jogo com a plateia. É importante não lidar como se tudo fosse
normal, sem reagir às ações. A Reação é a forma como atores/personagens
respondemos ao mundo.
O espetáculo não utiliza texto falado, contudo as
personagens principais possuem grande
complexidade emocional e psíquica, ao estilo stanislaviskiano. Mesmo que não
seja dito em texto, nos ensaios e apresentações, percebemos que os personagens tem nome, memória
dramática, emotiva e subtexto para cada ação. Na sua dissertação de mestrado,
José Regino pesquisou a construção do corpo cômico analisando os quesitos
cômicos apontados por Freud em comunhão com as técnicas de interpretação feitas por Stanislavisk. Essa é
um questão curiosa e que devemos aprofundar posteriormente. Quais foram as
técnicas utilizadas durante o processo criativo para a construção das
personagens?
Nesse último ensaio o Zé Regino definiu geograficamente o
espaço do tapete/espaço cênico. Ele delimitou, com um fita crepe no chão, um
retângulo onde seria o espaço das
personagens e das cenas. Fora desse tapete, ficam duas araras de roupas e
cadeiras onde os atores, de maneira distanciada e meta teatral, se vestem,
observam a cena, executam as músicas. Mesmo durante a narrativa da cena, se uma
ator sai do tapete para pegar um adereço, ele se distancia da personagem e só volta a ser personagem quanto o ator pisa o
pé no tapete novamente. Com esse espaço
cênico delimitado no chão, percebemos que o jogo teatral ficou muito mais claro para
a plateia, de que são atores fazendo teatro. À partir daí, José Regino também
sugeriu alguns momentos de quebra nesse jogo do tapete. Foram algumas cenas marcadas
no espetáculo em que um ator entra no tapete, olha para a plateia como ator,
percebe que tem que “entrar” na personagem e posteriormente monta o corpo da
personagem. Com essa brincadeira, eles enfatizam o jogo do tapete, proposto
anteriormente. Percebemos que a noção de fotossíntese e de reação também ficaram mais
marcantes na cena. Os atores parecem dizer à plateia: “Estamos fazendo
teatro. Eu sou um ator que estou fazendo a personagem tal. Vamos jogar?” Dessa
maneira eles convidam e re-convidam a plateia para o jogo da cena e a comicidade acontece.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
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